(21 de outubro de 2015)
No Centro de Convenções de Pernambuco, uma exposição com quinze painéis apresentava expressões da ação pedagógica do Instituto Capibaribe. Os 390 lugares do Teatro Beberibe foram ocupados por funcionários, professores, estudantes, suas famílias, ex-alunos, ex-professores e amigos, animados com o reencontro e a programação.
Monica Melo, diretora da escola, abriu a mesa convidando quatro palestrantes: Jorge Tarcísio Falcão, ex-aluno, pai de ex-aluna, professor-pesquisador em psicologia da aprendizagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Cláudio Ferrário, ex-aluno, pai de aluna e ex-alunos, ator e diretor, há 40 anos trabalhando com teatro e audiovisual; Agostinho Rosas, ex-aluno, ex-professor de Educação Física e pai de ex-alunos do IC e doutor em Educação e Vera Lúcia Anderson, ex-aluna, ex-professora, ex-diretora, avó de alunos, mãe de ex-alunos e diretora adjunta da escola.
Ao entrar no Capibaribe em 1962, Jorge Tarcísio Falcão tinha sérios problemas de aprendizagem. Cursando o antigo 2º ano primário o garoto ainda não tinha conseguido aprender ler. Ao chegar, recebeu um convite que o deixou assustado. Dona Raquel chamou-o para ajudar no jornal da escola. "O que eu poderia fazer num jornal sem saber escrever?" pensava o estudante. Para começar, a educadora colocou-o como responsável por rodar a publicação num antigo mimeógrafo a álcool. Em algum tempo, recebendo e respondendo aos estímulos no ambiente escolar, Jorge foi superando suas dificuldades e tornou-se competente editor do jornal.
Jorge relembrou o quanto a visão da escola influenciou em sua trajetória. "O desafio não é somente conseguir, mas conseguir do seu jeito". Construindo seu aprendizado num processo favorável ao seu perfil, resolveu encarar um novo desafio: candidatar-se a uma vaga no antigo Ginásio de Aplicação (atual Colégio de Aplicação da UFPE). A frase de incentivo ficou marcada: "Você vai passar, se conseguir fazer seu caminho..." disse Dona Raquel. E foi isso que ele lembrou quando, mais tarde, foi aceito para o doutorado em Educação, na França. Hoje, pós-doutor em aprendizagem, foi muito aplaudido pelas pessoas que lotavam o teatro, ao expressar o sentimento daquele que se preocupa com a educação dos filhos. "Muitas vezes mães e pais sentem insegurança pensando: dentro da escola tudo bem, e na vida real? Quando tiverem medo do futuro, olhem onde estão os egressos do IC... Eles estão bem na vida e saber disso acalma. No futuro, o que todos lembram é a seriedade do projeto pedagógico e o privilégio de compartilhar esta escola respeita a individualidade das pessoas."
Cláudio Ferrário, que é filho de uma ex-professora do IC, expressou a alegria de estar vivendo os 60 anos da escola. O artista resume sua convivência com o Capibaribe às palavras fundamentais em sua vivência: respeito e liberdade. Para ele, o gosto pela Arte e pela Cultura está presente no cotidiano dessa escola, que sempre está conectada ao mundo contemporâneo. Dos contatos com o pedagogo Paulo Freire, em sua infância, até a iniciação no mundo das Artes Cênicas, sempre houve a inspiração do Instituto. Foi lá que conheceu o amigo de Ginásio de Aplicação, Jorge Tarcísio Falcão, autor da primeira peça em que atuou, em 1972.
Estudando Educação Física, Agostinho tornou-se estagiário do Instituto, tendo como mentora D. Janete, sua antiga professora no próprio colégio. A oportunidade permitiu a construção do seu aprendizado, que rendeu, no futuro, em Portugal, sua dissertação de mestrado na área de criatividade. No IC, Agostinho realizou experimentos a partir do jogo popular "queimado". Em uma aula, 25 estudantes criaram mais de 60 variações da brincadeira. As criações foram trabalhadas na escola por quase dois anos, numa união entre movimento, inovação e "boniteza humana". O contato com outros processos de trabalhar a Educação Física levaram Agostinho a redimensionar o conhecimento absorvidos na universidade da época, com modelos militaristas de desportos e seguir numa direção da "amorosidade da condição humana".
A diretora adjunta Vera Lúcia Depois fechou a mesa ressaltando a felicidade de todos os participantes da escola de diariamente "desbravar o caminho do conhecimento". Em seguida, professores e funcionários foram homenageados e foi a vez dos estudantes tomarem o palco. Arte e cultura literalmente envolveram a plateia. Com esquetes teatrais, música instrumental, canto e a execução o hino da escola transformado num envolvente maracatu os jovens guardaram a última surpresa da noite: um grande tecido pintado artesanalmente na escola rodeou as centenas de pessoas presentes, num abraço simbólico do Capibaribe. No fim, de mãos dadas a plateia se uniu numa grande ciranda celebrando o encontro de gerações proporcionado pela reunião dos que amam o Instituto Capibaribe.
Foi lançado o documentário Olhar da Família, criado por um grupo de familiares de alunos da escola. A psicóloga, Maria Sobral explicou que o vídeo de 26 minutos foi, "... uma ideia que surgiu dos professores, na semana pedagógica, a partir da necessidade de um material atual, que situasse o que representa a escola". O programa divertiu e emocionou apresentando imagens de época, relembrando o período em que o IC foi criado - num cenário educacional onde fervilhavam ideias progressistas, direcionadas a um Brasil sem analfabetismo e com escolas mais abertas às necessidades das pessoas em desenvolvimento, futuros cidadãos do país.
No vídeo, vemos que o educador Paulo Freire acreditava que a criança pudesse se desenvolver num ambiente educacional favorável ao mundo dela própria; onde houvesse espaço para o movimento, a arte, a criação e a construção do conhecimento. Freire, um grupo de educadores, entre eles a professora e primeira diretora do Instituto, Raquel Crasto, se uniram a um grupo de pais e mães alinhados a uma proposta democrática de educar. O documentário resgata o passado cujo lema, Dona Raquel recorda: "Amar para compreender; compreender para educar" e chega à escola nos dias de hoje, com seu projeto bem-sucedido de educação "onde a escola se encontra com a vida".
A cobertura do evento pode ser assistida, aqui:
https://vimeo.com/149199081
O documentário está disponível na página da escola, no Facebook: https://www.facebook.com/Instituto-Capibaribe-548064015335301/?fref=ts